terça-feira, 27 de outubro de 2009

A dança



Cansara-se daquela dança sem par. O pulso ainda pulsando num ritmo freneticamente eletrônico. Fazia calor. Fazia falta. E fazia tempo...
No chão do quarto - deitada em meio há clichês - vento entrando pela janela, observou o céu naquela noite agora fria. Nenhuma estrela, só aquele satélite natural se mantinha absoluto. Lindo, longe... E que agora parecia querer invadir com sua luz o cômodo pequeno.
Levantou-se do transe como quem desperta de um pesadelo. Talvez nem ela mesma soubesse por quanto tempo se mantivera assim, inerte... Chacoalhou a cabeça para os lados na vã tentativa de expulsar aquele enxame de interrogaçõezinhas que tanto a atordoavam. Saltitantes, multicoloridas... Eram dezenas, centenas delas.
Após um espaço de tempo breve - como uma xícara de café - as tais pontuações partiram num cortejo silencioso e ritmado, como tudo na vida dela. Ou quase tudo... Ela não. Permaneceu estática, entorpecida. E indagou lá aos seus botões: será o amor um mero engano, ou é agente que engana o amor?
Tentou chegar a uma conclusão, mas não obteve respostas. Botões vermelhos são surdos!
Pensou consigo mesma que se fosse um botão podiam pensar nisso juntas.
Ninguém por perto, só os surdos botões e o som do silêncio que ecoava no quarto. E ela ali, sozinha, podia ser o que quisesse... Naquela noite, a poetisa fingiu mais uma vez.

Outras Coisas Venenosas...

Outras Coisas Venenosas...