terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Havia um chaveiro em formato de coração.



O avião cruzou o céu em brancas nuvens sem lhe dizer nada, sem sentir nada, sem derramar
uma única lágrima, sem se importar com o peso daquilo que consigo levara embora. Mas em boa
hora não lhe parecia ser a palavra mais adequada. E ela ficou ali, imperecível, olhando para tudo
aquilo que algum dia chamara amor e que agora parecia-lhe mais um ínfimo ponto azul no
horizonte - daqueles que sutilmente já não existe mais e deixa agente se perguntando até quando
realmente esteve ali -, até de-sa-pa-re-cer. Aqueles olhos que sempre se mostraram tão profundos e seguros de si agora eram outros, dissolveram-se em água com sal e só assim puderam enxergar novamente.
Então ela pode perceber que era dia embora fosse noite dentro dela e ventasse no espaço
vazio entre os dois pulmões. E que havia uma vida inteira exatamente como ela havia deixado fora daquele aeroporto, e que seguia o seu fluxo orgânico. Ao cruzar o saguão parou em frente a porta outrora fechada e que se abriu como se gentilmente a expulsasse daquele lugar. Ao passar pela porta parecia emergir do fundo gelado de um oceano. Um passo a frente e pode sentir o calor do mundo.
Sentia seus pés tocando cada vez mais superficialmente o chão ao passo que se tornara tão leve que quase flutuara. Um pedaço dela havia embarcado junto a ele naquele vôo sem escalas para o Trângulo das Bermudas.

Nenhum comentário:

Outras Coisas Venenosas...

Outras Coisas Venenosas...