segunda-feira, 29 de março de 2010

Vermelho.


No rotineiro caminho de casa observava, quase que instintivamente, o alienante trânsito de pedestres pela calçada daquela manhã castanha anunciando tempestade. De novo, o dia castanho se despede. E de novo, suas indigestas lembranças voltam a cumprimentá-la.
Nesses dias o seu coração tornava-se leve e poroso. Parecia dilatar-se tanto que quase a sufocava. E como uma esponja, a medida que o negro céu ia chorando, o peito dela ia inundando como se - não bastando sangue - quisesse exaurir para si também todas as lágrimas do mundo.
Seguia pelas ruas, embora ainda molhadas, estavam fantasmagoricamente cheias. Via pessoas vazias. Pensou que talvez fossem espíritos, sem luz, sem sombra. Na dúvida, as observava enquanto as castanhas nuvens se disipavam pelo céu matinal.
Alguém que faça do meu outono uma primavera. Cantarolava distraídamente a menina de meias roxas em meio a algumas palavras trocadas - entre passos e risos - com a garota ao lado.
Virou a cabeça depressa para o lado oposto, não se sabe se querendo desviar a atenção de algum dos sentidos ou dos sentimentos que logo dispersaram-se - junto com a luz do sol que despontava ainda tímido - em gotículas de água suspensas no ar. Do outro lado da rua, pode notar uma árvore desfolhada. Seu tronco retorcido - em meio a algumas folhas secas ainda não varidas ao chão - foi tudo o que restou dela.
Alguém que faça do meu outono uma primavera, lembrava. Havia desejado muito isso. Mas tivera sido antes de quando tentar entendê-lo ainda parecia fazer algum sentido.
Enquanto isso o fluxo segue na quase tarde da metrópole. No rotineiro caminho de casa, ela dobrou a esquina à esquerda. Havia decidido comprar maçãs.

Um comentário:

Totó disse...

Poxa, que triste... :(
Mas... mas... por que maçãs?

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